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Sobre o medo




Comecei a ler A sutil arte de ligar o f*da-se, e em determinado momento, me peguei pensando sobre o medo. Os últimos anos foram de muita reflexão, de aprendizado, de amadurecimento. Eu vivi uma depressão que achei que não iria superar, sofri anos com ansiedade e tive um ataque de pânico que me desesperou. Lembrando de alguns episódios, comecei a analisar o papel que o medo desempenhou nesses momentos. Até que ponto é normal sentir medo? De que forma ele se manifesta?

Uma vez, fazendo janta, eu desatentamente ralei fora um pedaço do meu dedo no mandoline (se você não sabe o que é, clique aqui). Depois dessa eu nunca mais quis usá-lo (KKKK parece idiota, mas é verdade). Toda vez que eu olho pra ele sinto um friozinho na barriga, e quase consigo sentir a dor desse acidente novamente. Sabe quando criança enfia o dedo na tomada, leva um choque e depois nunca mais faz isso de novo? Então. Ela fica com medo. Esse medo é saudável e, de certa forma, anda junto com nosso instinto de sobrevivência. É perfeitamente natural.

Só que chega um ponto que ele se torna prejudicial, que te paralisa. Que te impede de romper, de tentar, de crescer, sabe?

Ano passado eu finalmente percebi que detesto a engenharia e resolvi mudar minha graduação. E (pasmem), senti medo. Senti medo quando percebi isso sozinha, senti medo de contar isso pros meus pais, senti medo de comunicar alguns amigos. Senti medo do que eles pensariam ao meu respeito. Senti medo de mudar pra outro curso e odiá-lo também. Senti medo de escolher errado. Senti medo de me sentir incapaz da mesma forma que eu me sentia cursando engenharia.

Mas passado esse impacto inicial, comecei a sentir medo de nunca ser feliz na profissão. Comecei a pensar no que aconteceria se eu continuasse na engenharia, em como seria estagiar, fazer TCC, pegar o diploma e de fato trabalhar naquilo. E daí eu senti medo novamente.

Mas foi um tipo diferente de medo, e honestamente, acho que me impulsionou a não ficar no mesmo lugar. Foi um medo que me fez querer uma mudança, sabe?

Enfim.

Acho que todo aquele sentimento inicial foi ficando menor conforme fui pensando no que poderia, de fato, acontecer. 
E se eu escolher errado? Paciência, escolho outro curso ou volto pra engenharia.
O que todo mundo vai pensar? Não sei, eu não controlo isso e honestamente, não me importo muito.
Como meus pais irão reagir? Essa foi difícil, e eu só descobri quando consegui comunica-los da minha escolha. Não foi fácil, mas ninguém morreu. Estamos superando.

No meio do caminho acabei ouvindo algumas palavras de encorajamento que eu não achei que receberia. Senti um quentinho no coração, mesmo sabendo que não preciso da validação de ninguém. Ouvi palavras de repúdio também, e pra minha surpresa, nem me abalei com isso.

Existem situações nas quais a única coisa que precisamos fazer é tentar. Mesmo com medo. Eu achava que era um sentimento ruim, que paralisava, que evidenciava minha impotência, mas não... Ele faz parte da vida. É perfeitamente normal sentir medo. E a gente vive apesar dele.

*Photo by Tim Trad on Unsplash


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