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Ah, quando acontecer... aí sim eu vou ser feliz


Eu acreditava que a vida era assim. A gente lutaria, esperaria, faria e aconteceria até chegar . Naquele lugar de sucesso. No pico da montanha. Na realização do nosso sonho. 

Aí sim eu teria finalmente a permissão para ser feliz. Encontraria a paz, o sossego e a alegria eternos de quem vive uma vida completamente realizada.

Nisso veio o vestibular. Não passei de primeira chamada, no curso dos sonhos, na faculdade dos sonhos. "Calma, vou continuar tentando. Quando der certo eu vou ser muito feliz". Passei no vestibular na última colocação, na última chamada. Mudei de cidade. "Finalmente, vou morar sozinha. Vai ser incrível". Então começou a graduação, famoso inferno a engenharia. "Nossa, quando eu formar aí sim vai ficar bom. Por enquanto tá bem bosta". E assim foi indo. Até eu ter ataques de pânico, ansiedade e depressão.

Nos últimos meses, depois de sessões de terapia, leitura e autoconhecimento, eu comecei a perceber algumas coisas importantes. A primeira delas é: eu sou responsável pelo que eu sinto. Isso foi divisor de águas na minha vida. Assumir a responsabilidade sobre as minhas emoções me transformou e revolucionou meu mundo. A mudança veio de dentro para fora (maior clichê que eu escutava e nunca entendia: o mundo muda quando você muda). Eu finalmente entendi que eu sempre teria duas opções: manter minha paz e cagar pro resto ou surtar e acabar mais com a minha saúde. Adivinha o que eu escolhi? Pois é.

E a forma como isso se relaciona com a idealização de situações perfeitas: a escolha de ser infeliz com o presente era minha. Eu escolhia estar insatisfeita, eu escolhia estar chateada, eu escolhia almejar por um futuro que eu não sabia se iria tornar-se real ou não. Todas essas escolhas eram minhas - apenas minhas.

Em segundo lugar, aprendi a curtir o processo. A fechar os olhos, respirar fundo e realmente aproveitar cada segundo de cada problema, dúvida, luta, vitória, conquista... De absolutamente tudo. Dos grandes feitos e dos detalhes também. De ter um sentimento profundo de gratidão simplesmente por estar viva passando por tudo isso. Eu finalmente entendi que boa parte da vida a gente passa durante a jornada, e não no 'destino'.

Conversando um dia com a minha mãe eu percebi que puxei tudo isso dela. "Quando vocês estiverem casadas, empregadas, eu vou poder viajar com o seu pai". E não teve argumento que a fizesse mudar de ideia. "Quando eu puder pagar alguém para cozinhar eu vou fazer dieta", ou então "quando eu estiver mais magra vou entrar na academia". É sempre no depois, no futuro incerto, lá na frente, na situação ideal, sabe?

O problema da situação ideal é que ela dificilmente aparece. Acontece. Surge. Muitas vezes ela simplesmente não vem. Aí a gente fica estagnado em uma vidinha mais ou menos, bem infeliz, confabulando como seria maravilhoso se as coisas fossem um pouco diferentes. 

E aí deixamos pra depois. A viagem, o corte de cabelo, a festa, a mudança de emprego, o curso novo, a dieta, o passeio no parque, a saúde e a sanidade.

O que você poderia estar fazendo hoje?

Photo by Kace Rodriguez on Unsplash

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